Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

sobre semear


tanto tempo a plantar
agora restou-me o esperar

e espero no terraço
sentado na cadeira que balança
vendo sol e lua fazerem sua dança
girarem em sua valsa
ignorando minha pressa

e desço ao campo 
retirando os sapatos 
e folgo o nó da gravata

a terra parece nula
mas já possui
todas as minhas sementes
todas
joguei todas

talvez eu tenha confiado demais
nessa terra potencialmente infértil

já não importa 
lancei todas
nenhuma na mão restou

não me cabe pedir de volta
as sementes que 
tão devotamente
lancei

é tarde
não deve passar das duas
mas as nuvens
- tão pequenas -
começam a cobrir o sol
- tão longe -
e fazem tudo parecer noite
por meia hora

caminho 
com medo de pisar em sementes
caminho
por onde passo
e recolho um maço
de entrementes enraizados

a terra engoliu minhas
sementes
dei todas
não me cabe pedir
voltar atrás é para os grandes
e minha pequenez é constrangedora

vontade de correr
para dentro da casa grande
e gritar às paredes machadas
de café mofo e tempo

"deem um sumiço em mim"
"salvem-me de mim"

quando de vento se semeia
para se colher um furacão?

quando de vento se semeia
para se colher uma ventania?

quando de vento e tempo e dor
se semeia
para se ouvir a voz dela
numa brisa peregrina?

Raul Albuquerque
21/08/2013

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