Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

terça-feira, 2 de abril de 2013

Tempo Agora


Tempo 
passa por mim em profundo silêncio
e com a leveza 
que os lírios só emprestam
às serpentes que preparam o bote.

Atacado
- e recuperado do ataque -
vejo que está tudo perdido
e quebrado 
abandonado num ponto 
irrelevante do caminho.

Lamentar
já não vale a pena
já não vale o lamento
já não vale a possível lágrima.

Agora
é juntar o que sobrou 
e tentar construir algo com aquilo
ou só tentar sobreviver mesmo.

Tempo
passou por mim em profundo silêncio
e trouxe consigo
tempestade de areia que enevoa os ares
por minutos-séculos de vida
- e quando a poeira baixa
calculamos as baixas e as ruínas.

Tempo
passeou comigo por corredores
e por cômodos
deixando cheiros característicos 
e incômodos.

Agora
não há como estar em casa
e não sentir os cheiros do passado:
o cheiro distante da inocência
o cheiro recente da decepção
o cheiro ansioso do amor vindouro
o cheiro forte das mágoas
o cheiro leve das felicidades anônimas
o cheiro bom 
- ainda que putrefacto e violento -
do possível belo amor que não deu certo.

Tempo
Agora

Agora
é necessário extinguir
todos esses cheiros
que se impregnaram nas roupas
nos móveis
e nos imóveis
- deixá-los prontos para
novas marcas
novos arranhões
novos pés quebrados
novos riscos na parede
novas lembranças
que passam como um filme
- ou como um conto russo
ou como uma tragédia shakespeareana
ou como um diário adolescente
ou como uma história esquecida.

Raul Cézar de Albuquerque
02/04/2013

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