Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sábado, 9 de março de 2013

Para não perder a ternura


Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".

Há de aprender, meu filho, a andar sozinho na rua
- e na vida.
Há de aprender, meu filho, a olhar para o lado
e não ver ninguém e não chorar nem reclamar
nem parar nem gritar nomes proibidos
nem blasfemar nem desistir.

As minhas filosofias talvez
não me façam o mais certo. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.


Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".

Há de observar, meu filho, o movimento dos galhos
e ver nele o sopro despreocupado da vida.
Há de observar, meu filho, o sorriso singelo e 
perceber nele as marcas das ferraduras
do cavalo que puxa a carroça da vida
e pensar que será o próximo - sem pesar.


As minhas filosofias talvez
não me façam o mais desejável. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.

Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".

Há de anotar no caderno sem páginas, meu filho,
todos os pecados, as confissões, os perdões,
os ressentimentos, as dores, as patologias,
as frases ditas e ouvidas, os amores,
as ilusões, os sonhos e o indizível - sim,
há de anotar o indizível, meu filho.

Há de anotar na alma, meu filho, 
um regulamento improvisado.

Há de sentir cada rabisco
- ou nota oficial - na pele da alma.


As minhas filosofias talvez
não me façam mais feliz. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.

Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".

Há de sentir petrificar a epiderme
e as articulações. Há de ser estátua para sempre.
Há de ser tenaz como os galhos mais frágeis, meu filho.
Há de ser mármore baldio
- refinado no sonho do sonho.
Há de ser estática imagem em praça pública.

Há de ser anjo de fontes italianas
ou gárgula de Notre-dame.
Haverá de ser.
Haverá.
Haverá, meu filho, ternura no fundo do poço da alma.

Raul Cézar de Albuquerque
08-09/03/2013

Um comentário:

  1. en la lucha de classes
    todas las armas son buenas
    piedras
    noches
    poemas


    p. leminski

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