Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Primeira Viagem (de Pablo Neruda)


Para expressar algo sobre o dia dos infantos, decidi publicar um poema autobiográfico do Neruda (porque ele é demais) que remete a essa fase tão... desbravadora da vida.

Não sei quando chegamos a Temuco.
Foi impreciso nascer e foi tardio
nascer de verdade, lento
e apalpar, conhecer, odiar, amar,
tudo isso tem flor e tem espinhos.
Do peito poeirento da minha pátria
levaram-me sem fala
até a chuva da Araucanía.
As tábuas da casa
cheiravam a bosque,
a selva pura.
Desde então meu amor
foi madeireiro
e o que toco se converte em bosque.
A mim, confundem-se
os olhos e as folhas,
certas mulheres e a primavera
de avelã, o homem e a árvore,
amo o mundo do vento e da folhagem,
não distingo lábios e raízes.

Do machado e da chuva foi crescendo
a cidade madeireira
recém-cortada como
nova estrela com gotas de resina,
e o serrote e a serra
se amavam noite e dia
cantando,
trabalhando,
e esse som agudo da cigarra
levantando um lamento
na obstinada solidão, regressa
ao próprio canto meu:
meu coração segue cortando o bosque,
cantando com as serras na chuva,
moendo o frio e serragem e aroma.

"Primer Viaje"
Escrito por Pablo Neruda, em Valparaíso, em 1961(?).
Publicado em "Memorial de Isla Negra", em 1964.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque

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