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Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

La Guerra (de Pablo Neruda)



Espanha, envolta em sonho, despertando
como uma cabeleira com espigas,
te vi nascer, talvez entre as brenhas
e as trevas, lavradora,
levantar-te entre os carvalhos e os montes
e recolher o ar com as veias abertas.
Mas te vi atacada nas esquinas
por antigos assaltantes. Iam
mascarados, com suas cruzes feitas
de víboras, com os pés metidos
no glacial pântano dos mortos.
Então vi teu corpo desprendido
de arbustos, sujo
sobre a areia violenta, aberto,
sem mundo, incitado na agonia.
Até hoje corre a água de tuas rochas
entre os calabouços, e sustentas
tua coroa de espinhos em silêncio,
para ver quem pode mais, se tuas dores
ou os rostos que passam sem olhar-te.
Eu vivi com tua aurora de fuzis,
e quero que de novo povo e pólvora
sacudam as ramagens desonradas
até que se abale o sonho e se reúnam 
os frutos divididos na terra.


Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.
Poema "La Guerra" de Pablo Neruda. Poema X do Canto XV do livro "Canto General". Escrito em 1949.

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